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NAVEGAREI – a grande risada dos povos by D. Graça
setembro 26, 2020, 10:21 pm
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Apostamos que toda luta pela cultura confronta a guerra. Mais do que nunca, temos que nos atrincheirar no mundão com nossas alegrias acesas em direção ao Caos, que ainda é o melhor lugar pra sermos arrebatados e liberar criatividade. Primeiro, porque viemos daí, onde lutar significa resistir nessa alegria enquanto suportamos o peso sinistro da História. Depois, porque a História, vista a partir desse olhar, o olhar distante do “Império”, assume tal aspecto sombrio e devastador, derramando em nós alta dose do medo ou mesmo do terror dos poderosos.

A História é um peso, um peso contado à sombra de fumaça dos bombardeios e à janela dessa forma de sociedade em aprofundada desintegração. É nossa própria sombra oculta nas instituições e na base social. É um coro de apelos silenciados. À medida que nossos corpos conseguem carregar as marcas dessas narrativas que há tanto tempo investiram no apagamento da memória e destruição de culturas, nossas vozes encontram os meios pra se projetarem. (Meios são caminhos, espaços, vontades, disponibilidades e algum engajamento humano.) E dizemos que a vida há de escandalizar intensamente aos pés dos poderes, trincar suas bases e saltar pra dentro, inaugurar outras artes de viver, outras formas, variações, métodos. Retumba! A grande risada dos povos.

Toda luta pela cultura combate a narrativa dominada pelas armas. A cultura é palavra sem palavra. É a palavra que se apodera de nós e nos posiciona, nos pronuncia. Palavra-corpo. Por outro lado, na guerra o poder de mediação não se encontra aí, mas em toda força sobreposta à palavra ou capaz de esmagar tanto as palavras quanto os gestos; palavra contra corpo, corpo contra palavra.

Certa vez, numa frente conturbada, um escudo de papelão carregava a insígnia “Caos é movimento”. Era um Chamado. Ao proteger o corpo, o escudo ia se rasgando e se desfazendo aos brutos impactos do efeito moral e da borracha. Era como dizer que a cultura e mesmo o próprio Caos seriam destroçados pelos pretensiosos desmandos (a pretensa ordem) do “sistema”. Por detrás de escudos de papelão resistem acesas a alegria e a vontade que são além de qualquer força. Afinal, o que reivindicamos ao evocar o poder da cultura, da vida cotidiana e de nossas artes de viver contra a peste destrutiva do Poder e suas armas? “Reivindicamos” TUDO. No campo da guerra social convidamos a vida a brotar quente através do frio imperativo da sobrevivência.

E, quem sabe, por isso a paz consista em viver, no comum, um tempo presente onde pais e mães não tenham que enterrar suas crias. A ordem que, há séculos, tomou à força a vida cotidiana é uma ordem de não pertencimento, da forçada distância entre a cultura e as possibilidades de sua realização. Dá pra dizer que tal distância foi o que resultou da tomada da cultura pelas investidas colonialistas. Na outra direção, exalta-se porém o constante chamado pra que a vontade de viver se realize. Decolonizar o mundo! É o ponto de nosso encontro.


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